quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O Computador e a Teoria da Aprendizagem

Computador e a Teoria da Aprendizagem

Educação é um processo continuo e dinâmico que permite ao indivíduo apropriar-se de conhecimentos. Seguindo a linha vigotskiana, Oliveira( 1993), salienta a importância do social no desenvolvimento humano e afirma que o aprendizado possibilita o despertar de processos internos do indivíduo. Processos estes, que, ligam o desenvolvimento da pessoa com a sua relação com o ambiente sócio-cultural em que vive. O homem é um ser social por natureza, e é na interação com o meio físico e com outros indivíduos que aprende e consequentemente se desenvolve. Demo(1993), ao conceituar qualidade educativa realça a necessidade de acesso ao conhecimento básico que garanta ao indivíduo condições de produção como também de participação. Isto quer dizer que ao participar o indivíduo está interagindo com o meio, num processo de trocas mútuas com os outros indivíduos que também são parte integrante desse meio. Nessa perspectiva, para que a participação seja efetiva é preciso que a educação seja baseada na organização do sujeito histórico que ao ler e interpretar a realidade, que deve ser fundamentada teoricamente, se utilize de seu potencial crítico e criativo. E Interpretar a realidade hoje não é o mesmo que interpretá-la, a algum tempo atrás. Os avanços tecnológicos estão, a cada dia ,tomando um espaço maior na nossa sociedade. As relação entre escola, trabalho, cidadania, por exemplo, se modificam mais e mais a medida que a tecnologia avança e, nós, como educadores temos que estar atentos a estas mudanças para analisar de que forma a educação, e especificamente a escola (como instituição formal do processo educativo) pode contribuir na reorganização desta sociedade .
Educar eqüivale a socializar os alunos, torná-los participantes do legado cultural da sociedade da qual são membros e dos principais objetivos, problemas e peculiaridades do resto da humanidade. (Santomé,1996:14)
As experiências sociais e históricas já consolidadas em conjunto com a maturação física produzem o que Vygotsky chama de funções psicológicas superiores humanas que são os "mecanismos psicológicos mais sofisticados, mais complexos que são típicos do ser humano e que envolvem o controle consciente do comportamento(...)"(Oliveira,1994:26). Estas funções são desenvolvidas através da intervenção de um terceiro elemento que se caracteriza como sendo um elemento mediador na relação entre sujeito e objeto. Esses mediadores podem ser de dois tipos: Os instrumentos e os signos.
Segundo Oliveira(1994), numa análise feita ao trabalho de Vygotsky, os instrumentos são feitos com um determinado objetivo, tendo um fim específico, construído durante a historia cultural e social do trabalho coletivo permitindo ao homem modificar a natureza, servindo como mediador entre o indivíduo e o mundo; Os signos agem como instrumentos internos do indivíduo funcionando como controlador dos processos psicológicos e não na ação do mundo físico. Os signos servem para lembrar, comparar coisas, escolher, memorizar, etc. do mesmo modo como os instrumentos são elementos externos ao indivíduo, os signos são instrumentos psicológicos, que vão agir dentro do indivíduo. Os signos possuem dois sentidos: o real, que é o seu significado estabelecido histórico e socialmente, e o subjetivo que é estruturado a partir das experiências de cada indivíduo.
As aprendizagens coletivas e o desenvolvimento humano se influenciam reciprocamente, e a escola é o lugar ideal para que estes processos realmente aconteçam de forma integrada na medida em que o professor, em seu papel de mediador seja capaz de intervir no processo de aprendizagem do seu aluno. Acredita-se que a aprendizagem mediada seja retida com mais facilidade porque se constatou, através de estudos e pesquisas feitas sobre os sistemas simbólicos, que a partir de determinado momento ou fase a figura mediadora internaliza-se, não necessitando mais da presença física de pessoas ou objetos.
O desenvolvimento humano se dá, segundo Vygotsky de acordo com o nível de Desenvolvimento Real e nível de Desenvolvimento Potencial. O primeiro se refere aos conhecimentos já consolidados nas interações com indivíduos mais experientes. O segundo refere-se aos conhecimentos que podem ser consolidados, os que o indivíduo realiza com ajuda de outras pessoas.
Entre esses dois níveis, está zona de Desenvolvimento Proximal que se caracteriza como um despertar de vários processos internos que se tornarão consolidadas a partir da interação com companheiros mais eficientes em conjunto com as várias possibilidades de construção. É nesse momento que se faz necessária a presença do professor que "tem o papel explícito de intervir na Zona de Desenvolvimento Proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreria espontaneamente,"(Oliveira,1994:62) pois é a aqui que se dá o processo de transformação: o que se consegue fazer hoje com a ajuda de alguém pode ser feito amanhã sem nenhuma ajuda. “Essa possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela interferência de outra é fundamental na teoria de Vygotsky(...)" (Oliveira, 1994: 59).

Com o desenvolvimento tecnológico, surge o computador como uma construção do homem e que precisa desse homem para utilizá-lo de forma criativa e crítica. "Sozinho, ele não é inteligente nem criativo e não sai de um trabalho algorítmico"(Babin e Kouloumdjian, 1989:144) . O computador é um elemento que se utiliza de várias formas de linguagem: palavras, símbolos, gráficos imagens sons que permitem a interação dos aspectos cognitivos com os equipamentos tecnológicos ampliando, dessa forma as nossas possibilidades de reformulação do meio social .
O computador permite construir objetos virtuais, modelar fenômenos, possibilitando o estabelecimento de novas relações para a construção do conhecimento ao mediar o modo de representação das coisas através do pensamento formal, que é abstrato, lógico e analítico.(Afira)
Para garantir a concretização desse novo elemento no meio escolar, a escola deve estar preparada para ser um ambiente aberto à comunicação à produção de conhecimentos, à sensibilidade, a cultura, ao lazer e ao prazer de socialização dos diversos saberes para que a educação realmente se processe nesse espaço.
Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou idéia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experienciamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos , na família, na escola, no trabalho, no lazer, etc. Educamos aprendendo a integrar em novas sínteses o real e o imaginário; o presente e o passado olhando para o futuro; ciência, arte e técnica; razão e emoção. (Moran)
É fundamental que os professores assumam uma nova responsabilidade em relação a sua prática pedagógica para que o computador não se torne um mero recurso pedagógico a seu serviço. Segundo Valente(1994), o professor deve, além de manusear o computador, estar preparado para usar a informática com os seus alunos, não apenas para observar suas dificuldades frente a máquina, mas para auxiliá-los e intervir sempre que possível para que as dificuldades sejam superadas. A participação do aluno no processo de aquisição do conhecimento é fundamental e o professor deve sempre estar presente para interpretar e contextualizar as necessidades individuais e grupais. Sobre isso Levy(1993) assinala
É bem conhecido o papel do fundamental do envolvimento do aluno no processo de aprendizagem. Quanto mais ativamente uma pessoa participar da aquisição do conhecimento, mais ela irá integrar e reter aquilo que aprender.(1996:40)


Informática Educativa e Interdisciplinaridade

O que é e como utilizar os projetos interdisciplinares na escola? Em que a interdisciplinaridade pode ajudar na formação do cidadão? Qual a relação entre Novas Tecnologias e projetos pedagógicos interdisciplinares?
Muitos autores acreditam que a necessidade dos trabalhos interdisciplinares na escola vem da complexidade dos problemas da atual sociedade, da necessidade de levar em conta o maior número possível de pontos de vista. Para outros, a problemática da interdisciplinaridade é conseqüência de interrogações sobre os limites entre as diferentes disciplinas e organizações do conhecimento, sobre a possibilidade de obter maiores parcelas na unificação do saber.
Termos como multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, educação global, metodologia de projetos, entre outros, surgem com o objetivo de mudar a “cara” do processo educacional, porém a palavra muitas vezes não traduz o que realmente se deseja: tornar o conhecimento global, não fragmentado, trabalhar com as necessidades dos alunos, levando em consideração a vivência de professores e alunos como um elo propulsor da construção do conhecimento.
Através de projetos interdisciplinares o currículo pode ser organizado não só em torno de disciplinas, como costuma ser feito, mas de núcleos que ultrapassam os limites das disciplinas, centrados em temas, problemas, tópicos, instituições, períodos históricos, espaços geográficos, grupos humanos, idéias, etc.
Numa análise sobre os currículos atuais Santomé (1998: 40 )afirma que:
“Se algo está caracterizando a educação obrigatória em todos os países, é o seu interesse em obter uma integração de campos de conhecimento e experiência que facilitem uma compreensão mais reflexiva e crítica da realidade, ressaltando não só dimensões centradas em conteúdos culturais, mas também o domínio dos processos necessários para conseguir alcançar conhecimentos concretos e, ao mesmo tempo, a compreensão de como se elabora, produz e transforma o conhecimento, bem como as dimensões éticas inerentes a esta tarefa. Tudo isso reflete um objetivo educacional tão definitivo como é o “aprender a aprender”.
A interdisciplinaridade é fundamentalmente um processo e uma filosofia de trabalho que entra em ação na hora de enfrentar os problemas e questões sociais.
Os currículos são estruturados em disciplinas, porém uma possibilidade é a de entrelaçar as diferentes áreas do conhecimento e experiências para que possam contribuir de modo mais eficaz e significativo com os trabalho de construção e reconstrução do conhecimento e dos conceitos, habilidades, atitudes, valores, hábitos que uma sociedade estabelece democraticamente ao considerá-los necessários para uma vida mais digna, ativa, autônoma, solidária e democrática. Se analisarmos, por exemplo, uma experiência científica, ela tem várias outras dimensões como a social, estética, lingüística, matemática, etc. Assim,
“ As propostas integradoras favorecem tanto o desenvolvimento de processos como o conhecimento dos problemas mais graves da atualidade. Facilitam o crescimento psicológico do indivíduo, o desenvolvimento das estruturas cognitivas de alunos e alunas, de suas dimensões afetivas e de relação social, de seu desenvolvimento físico, mas também permitem que sejam adquiridos aqueles marcos teóricos e conceituais, métodos de pesquisa, etc., que facultam para analisar, revisar e contribuir para o avanço e o crescimento das diferentes ciências e âmbitos do saber de uma sociedade concreta. Deste modo alunos e alunas preparam-se para enfrentar os problemas cotidianos nos que estão envolvidos, bem como os que os aguardam em um futuro próximo, porém sem estar pensando se necessitarão uma informação ou destreza matemática, física ou lingüistica.” (Santomé, 1998:125)
A interdisciplinaridade tratada como uma forma de integração, comunicação entre os professores, entre os diversos conhecimentos, facilitará a solução de vários destes problemas. Os alunos poderão começar a vislumbrar uma educação mais globalizada, onde as suas experiências, interesses, os conteúdos culturais possam fazer parte das discussões na sala de aula, desta forma, teremos uma grande possibilidade de começar a formar os cidadãos.


Tecnologia e Educação

A tecnologia atinge um dos graus mais elevados de complexidade para a nossa época. O homem tem que se adaptar às diversidades tecnológicas e criar metodologias que sejam adequadas à educação. A nova tecnologia está relacionada com a produção cultural, por isso ela é chamada por Pierre Levy (1995) de Tecnologias Intelectuais. As Novas Tecnologias não são meramente instrumentos, mas sim, elementos estruturantes que levam o indivíduo a resolver problemas, criar, memorizar, criticar, armazenar, pensar hipertextualmente os dados procurados.
Tudo que o homem utiliza como recurso para se chegar ao conhecimento é reconhecido com tecnologia – a língua, a escrita, o livro, o giz, o computador, etc. Falando especificamente, o computador é muito mais que um recurso tecnológico, ele passa a ter um novo significado, ligando conceitos, fazendo pontes, estruturando pensamento, fazendo do sujeito um agente ativo e pensante perante a sociedade. O propósito não é de supervalorizar a máquina, mas sim tirar dela o maior proveito possível. O objetivo seria então, buscar conjuntamente com especialistas na área de educação os melhores caminhos para trilhar de maneira concreta este nova era.
A tecnologia, nesta perspectiva, é fundamental, visto que ela pode ajudar a mudar a forma de pensar e agir de alunos e professores, a integração não só de grupos que estejam em um mesmo espaço físico (escola, por exemplo), mas de pessoas do mundo inteiro, trocando experiências, conhecendo novas realidades, pode definir uma nova perspectiva para a educação. O uso de aplicativos como o Word, Power Point, Excel, Access, Paint e Toolbook, integrados ao uso da rede Internet, podem ajudar a formar pessoas mais abertas à mudanças, que saibam lidar com diferenças, trabalhar em grupo e que percebam a importância da quebra das barreiras de tempo e espaço como uma nova forma de viver e conviver. A Internet, por exemplo, propicia a troca de experiências, de dúvidas, de materiais, as trocas pessoais, tanto de quem está perto como longe geograficamente. Ela pode ajudar o professor a preparar melhor a aula, a ampliar as formas de lecionar, a modificar o processo de avaliação e de comunicação com o aluno e como os seus colegas. O professor e os alunos podem ter acesso aos últimos artigos publicados, às notícias mais recentes sobre o tema a ser trabalhado, pode pedir ajuda à outros colegas – conhecidos ou desconhecidos. Segundo Moran (1997:2) a Internet será ótima para professores inquietos, atentos a novidades, que desejam atualizar-se, comunicar-se mais.
Ambientes informatizados criam todo um espaço para o desenvolvimento interdisciplinar, mediante o desenvolvimento de projetos e atividades integrando várias disciplinas. O computador, neste contexto, é visto como um objeto para a expressão da criatividade, que estrutura novas formas de pensar, agir, sentir... além de ser uma ferramenta para a integração e organização de conteúdos socialmente relevantes. A interdisciplinaridade torna os limites entre as disciplinas muito tênue, derrubando barreiras que foram construídas entre as ciências humanas e exatas.
Muitos acreditam que a tecnologia é uma das possíveis soluções para todos os problemas educacionais. Entretanto como afirma Ripper (1996:2)
“ (...) a tecnologia não é por si só a solução para esta mudança, podendo inclusive ir contra ela se for introduzida de forma a reforçar o modelo de ensino massificante, escondendo este reforço atrás de uma aparência de modernidade. (...) é necessário preparar o professor para assumir uma nova responsabilidade como mediador de um processo de aquisição de conhecimento e de desenvolvimento da criatividade dos alunos. Introduzida neste contexto, a tecnologia pode ser uma ferramenta valiosa, facilitando esta intermediação e um atendimento mais individualizado, e ajudando a remover barreiras ao processo de descoberta e ao acesso ao conhecimento.”
Reafirmamos as palavras de Ripper quando diz que o professor precisa estar preparado para mediar o processo de construção do conhecimento na era tecnológica. Mas, se a sociedade está exigindo pessoas criativas, críticas, autônomas, para um novo mercado de trabalho, para formar estas pessoas, é necessário inicialmente que o professor também tenha estas características. Para que haja um ambiente que incentive a criatividade do aluno é necessário criar condições para que o professor também possa agir criativamente. Se queremos alunos que saibam buscar informações e transformá-las em conhecimento e saber, é necessário que o professor também tenha uma postura de pesquisador. Mas como fazer com que pessoas que estão acostumadas a transmitir e reproduzir conhecimento comece a criar, produzir este mesmo conhecimento?
Acreditamos que é necessário redefinir o papel do professor e suas práticas pedagógicas. A construção do conhecimento deve ser coletiva, compartilhada entre professor e aluno. É necessário que o professor entenda o seu papel como um trabalhador intelectual e que a inserção da novas tecnologias na escola possa propiciar um ambiente criativo. Moraes (1997) afirma que:
“ (...) a ampliação e a dinamização dos processos vivenciais criativos possibilitam ao indivíduo maior compreensão dos processos de mudança que ocorrem tanto consigo mesmo como aqueles derivados da dinâmica evolutiva do mundo em que se vive. Permite também a ocorrência de avanços e saltos na história da humanidade.”
Diante de todas estas discussões surge a certeza de que é necessário a reorganização do âmbitos do saber para não perder a relevância e a significação dos problemas a detectar, pesquisar, intervir e solucionar.
Sabemos que a formação do cidadão não pode ser construída a partir de conhecimentos fragmentados. Também é preciso frisar que trabalhar de forma interdisciplinar atualmente (por ser a prática mais significativa nas escolas públicas) pode significar formar um novo tipo de pessoa, mais aberta, flexível, solidária, democrática e crítica. O mundo atual precisa de pessoas com uma formação cada vez mais ampla para enfrentar uma sociedade na qual a palavra mudança é um dos vocábulos mais freqüentes e onde o futuro tem grau de imprevisibilidade como nunca em outra época da história da humanidade.
BIBLIOGRAFIA:
OLIVEIRA, Marta Koln de. Vygotsky . Aprendizagem e Desenvolvimento: Um Processo Sócio-histórico. 2ª ed.Scipione ,
1991.
LÉVY , Pierre. As tecnologias da Inteligência – o Futuro do pensamento na era da informática. Fundação Carlos Irineu da
Costa. Rio de Janeiro: Ed.34,1993.
VALENTE, José Armando.(org.). Formação de Profissionais na Área de Informática em Educação . Campinas : Gráfica Central da
Unicamp,1993.

Um comentário:

AMANDA disse...

Bela análise, a fundamentação a partir de Vygotsky foi uma bela sacada!